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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Excelência do Deus de Oração

Posicionado no Céu dos céus, está o Senhor Jesus Cristo
Vale identificar os estágios do corpo de Jesus Cristo: 1) antes do seu nascimento, vivia Cristo na glória do Pai, com todas as glórias e honras da divindade - João 17.5; 2) entre o nascimento e a morte na cruz, Jesus Cristo era divino-humano, com ênfase em sua humanidade - Filipenses 2.5-8; I Timóteo 2.5; 3) entre a ressurreição e a ascensão, Jesus Cristo era divino-humano, com ênfase em sua divindade - Lucas 24.31; João 20.19; 4) após a ascensão, Jesus está glorificado com o Pai, em toda a sua divindade. Só que, entre a glorificação anterior ao nascimento e glorificação atual de Jesus, há uma diferença, pois atualmente Jesus traz em sua experiência as marcas de seu ministério aqui na terra - Hebreus 1.3; Apocalipse 1.7. Foi o que viu Estevão, conforme Atos 7.55 e 56. Foi o que declarou Paulo em Efésios 1.20-23. O Jesus Cristo, que ouve nossas orações expressa a excelência de toda a divindade celestial e enche Sua Igreja dessa glória, enquanto ora ao Pai celestial - Efésios 3.14 e 21.
Todo ser humano, desde Adão até o último que nascer na Terra, a ser bem sincero, há de reconhecer que entre todos os privilégios, honrarias, e glórias que qualquer ser humano pode desfrutar nesta Terra, não existe outra experiência mais excelente, notável, profunda, espiritual e realizadora do que ter a certeza de que, como cristãos, já estamos posicionados com Jesus Cristo, em sua glória celestial - Efésios 1.3 e 2.6 Física e mentalmente, estamos nesta Terra e sofremos todas as intempéries deste mundo. Espiritualmente e pela fé, já estamos "assentados nos lugares celestiais em Cristo". Por isso mesmo, é encantador observar que: 1) podemos ter a coragem de orar diretamente a Jesus e, pela oração, entrar diretamente no trono de Deus, onde Jesus Cristo está - Hebreus 4.14.16 e 10.19.21; 2) podemos entender claramente que "o maligno não pode tocar em nosso espírito", pois "estamos escondidos com Cristo, em Deus" - Colossenses 3.1-3; 1 João 5.18c; 3) por isso é que, quando Cristo descer em sua glória, desceremos juntamente com Ele" - Colossenses 3.4. Tudo isso é maravilhosíssimo.

Fonte: Pastor Doutor Abner de Cássio Ferreira, Presidente da Catedral da Assembléia de Deus em Madureira - RJ (Convenção Estadual do Ministério de Madureira no Estado do Rio de Janeiro) e Gerente de Publicações da Editora Betel - Coluna do Jornal O Semeador

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Perdido dentro da Igreja

O texto de Lucas 15.25-32 fala sobre o irmão do filho pródigo. Ele aponta o terrível perigo de estar na casa do pai, dentro da igreja, obedecendo as leis, cumprindo deveres, sem se enveredar pelos antros do pecado, e ainda assim, estar perdido. Podemos chegar a essa conclusão pelas seguintes razões:


1. Vive dentro da igreja mas não é livre (v. 29) - Ele não vive como filho, mas como escravo. Faz as coisas certas com a motivação errada. Sua obediência não provem do coração, mas da obrigação. Ele nunca entendeu o que é ser filho. Nunca conheceu o amor do pai. Muitos, também, estão na igreja por uma mera obrigação. Obedecem, mas não tem alegria. Estão na casa do Pai, mas vivem como escravos.

2. Vive dentro da igreja, mas está com o coração cheio de amargura (v.29,30) - O filho mais velho irrita-se com a misericórdia do Pai. Ele não se alegra com a restauração do seu irmão caído. Para ele quem erra não tem chance de restauração nem deve ser objeto de perdão. Na religião dele não havia agenda para o amor. Mas a palavra de Deus diz que quem não ama seu irmão ainda permanece nas trevas. O ódio que ele tinha pelo irmão, não era menos grave que o pecado de dissolução que o outro cometera dentro da igreja. O ressentimento que crepitava em seu coração, isolou-o do Pai e do irmão. Ele se recusou a entrar em casa para celebrar a volta do irmão arrependido, antes se encolheu, magoado, revoltado, envenenado pela mágoa destruidora.

3. Vive dentro da igreja, na presença do Pai, mas anda soloitário (v.31) - Ele anda sem alegria. Está na casa do Pai, mas não tem comunhão com ele. Muitos também estão na igreja, mas não tem intimidade com Deus, não desfrutam da alegria da salvação, não experimentam as doces consolações do Espírito, vivem como órfãos, sozinhos, curtindo uma solidão dolorosa.

4. Vive dentro da igreja, mas não se sente dono do que é do Pai (v. 31) - Ele era rico, mas estava vivendo na miséria. Tinha toda a riqueza do Pai à sua disposição, mas vivia como escravo. Era filho, mas não banqueteava com os seus amigos. Assim, também, muitos vivem na igreja sem experimentar os banquetes do céu, servindo a Deus por obrigação, sem alegria no coração.
O mesmo Pai que saiu para abraçar o filho pródigo arrependido, sai para conciliar este filho revoltado. O arrependido, sai para conciliar este filho revoltado. O arrependido, com o coração quebrantado, festejou a sua restauração; o outro, ficou do lado de fora, perdido, com o coração endurecido.

Fonte: Reverendo Dr Samuel Ferreira, 1º Vice-presidente da CONAMAD, Presidente da AD do BRÁS - SP e Secretário Executivo da Editora Betel. Esta coluna está no Jornal O Semeador


domingo, 28 de agosto de 2011

Está Consumado


de Max Lucado

"Está consumado!"
João 19:30
Há vários anos atrás, Paul Simon e Art Garfunkel nos encantaram com uma canção de um menino pobre que foi para Nova Iorque em sonho e caiu vítima da vida cruel da cidade. Sem dinheiro, tendo apenas estranhos como amigos, ele passava os dias "escondido, procurando os lugares mais pobres onde os mendigos vão, buscando pontos que só eles conhecem ".[1]
É fácil imaginar esse jovenzinho de rosto sujo e roupas velhas, procurando trabalho e não encontrando. Ele se arrasta pelas calçadas, lutando contra o frio e sonhando em ir para algum lugar "onde os invernos da cidade de Nova Iorque não me façam sangrar, levando-me para casa".
O garoto pensa em desistir. Em voltar para sua cidade. Desistir — algo que nunca pensou que pudesse fazer.
Mas no momento em que pega a toalha para atirá-la ao ringue, encontra um boxeador. Lembra-se destas palavras?
No espaço vazio se acha um lutador profissional levando com ele cada golpe que que o cortou até que gritasse de ira e vergonha – "Vou embora, vou embora!" mas o lutador permanece mesmo assim.[2]
"O lutador permanece." Existe algo magnético nessa frase. Ela soa autêntica.
Os que permanecem como o lutador são uma espécie rara. Não quero dizer necessariamente vencer, mas apenas permanecer. Ficar agarrado ali. Terminar. Não ir embora até que seja feito. Mas infelizmente muitos poucos de nós fazem isso. Nossa tendência humana é desistir cedo demais. Nossa inclinação é parar antes de cruzar a linha de chegada.
Nossa incapacidade de terminar o que começamos é vista nas menores coisas:
Um jardim com metade da grama cortada.
Um livro lido pela metade.
Cartas começadas, mas inacabadas.
Um regime posto de lado.
Um carro sobre cavaletes. 
Ou se mostra nos pontos penosos da vida:
Uma criança abandonada.
Uma fé vacilante.
A pessoa que muda sempre de emprego.
Um casamento falido.
Um mundo não evangelizado.
Estou tocando em algumas feridas abertas? Há qualquer possibilidade de estar me dirigindo a alguém que esteja considerando desistir? Se estou, quero encorajar você a permanecer. Quero encorajá-lo a lembrar a determinação de Jesus na cruz.
Jesus não desistiu. Não pense, porém, nem por um minuto, que não foi tentado a fazê-lo. Observe como ele estremece ao ouvir seus apóstolos caluniarem e discutirem. Olhe para ele quando chora junto ao túmulo de Lázaro ou quando se lamenta ao agarrar-se ao solo de Getsêmani.
Ele jamais quis desistir? Claro que sim!
Essa a razão pela qual suas palavras são tão esplêndidas. "Está consumado."
Pare e ouça. Você pode imaginar o grito da cruz? O céu está escuro. As outras duas vítimas gemem. As bocas zombeteiras se calaram. Talvez haja trovões. Talvez choro. Talvez silêncio. Jesus inala então profundamente, empurra os pés sobre o prego romano e grita: "Está consumado!"
O que estava consumado?
O plano da redenção do homem, longo como a história, estava consumado. A mensagem de Deus para o homem havia terminado. As palavras de Jesus como homem na terra não mais se repetiriam. A tarefa de escolher e treinar embaixadores terminara. O trabalho estava terminado. A canção fora cantada. O sangue derramado. O sacrifício feito. O aguilhão da morte fora removido. Tudo acabara.
Um grito de derrota? Dificilmente. Se as suas mãos não tivessem sido pregadas, ouso dizer que um punho triunfante teria sido levantado para o céu escuro. Não, não foi um grito de desespero. Mas de realização. Um grito de vitória, de cumprimento. Também um grito de alívio.
O lutador permaneceu. E agradecemos por tê-lo feito. Graças a Deus que Ele suportou.
Você está prestes a desistir? Não faça isso. Está desanimado como pai? Fique firme. Está cansado de fazer o bem? Faça apenas um pouco mais. Está pessimista em relação a seu emprego? Arregace as mangas e persevere. Não existe comunicação em seu casamento? Dê-lhe mais uma injeção. Não consegue resistir às tentações. Aceite o perdão de Deus e continue em frente. Seu dia está cheio de tristeza e desapontamentos? Seus amanhãs estão-se transformando em "nuncas"? A esperança é uma palavra esquecida?
Lembre-se, quem persevera não é aquele que não apresenta ferimentos nem está cansado. Pelo contrário, ele, como o lutador de boxe, está cheio de cicatrizes e sangrando. Estas palavras foram atribuídas a Madre Teresa: "Deus não nos chamou para ser bem-sucedidos, mas fiéis." O lutador, como nosso Mestre, foi traspassado e está cheio de dores. Ele, como Paulo, pode ter sido até algemado e açoitado. Mas permanece, persevera.
A Terra Prometida, diz Jesus, aguarda os que perseveram.[3] Ela não é apenas para aqueles que alcançam a vitória ou bebem champanhe. Não, de modo algum. A Terra Prometida é para aqueles que simplesmente permanecem até o fim.
Vamos perseverar.
Ouçam este coro de versículos destinados a dar-nos poder para manter-nos firmes:
Meus irmãos, tende por motivo de toda a alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança.[4]
Por isso restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos; e fazei caminhos retos para os vossos pés, para que não se extravie o que é manco, antes seja curado.'[5]
E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos.'[6]
Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.'[7]
Bem-aventurado o homem que suporta com perseverança a provação; porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam.'[8]
Obrigado, Paul Simon. Obrigado, apóstolo Paulo. Obrigado, apóstolo Tiago. Mas, obrigado mais que tudo ao Senhor Jesus, por nos ensinar a perseverar, a nos manter firmes e, no final, a terminar.

sábado, 27 de agosto de 2011

O Nevoeiro Do Coração Partido


de Max Lucado

O nevoeiro do coração partido.
É um nevoeiro escuro que aprisiona furtivamente a alma e se recusa a ir embora. É uma neblina silenciosa que esconde o sol e chama as trevas. É uma nuvem pesada que não honra qualquer hora nem respeita quem quer que seja. Depressão, desânimo, desapontamento, dúvida... todos são companheiros desta presença temida.
O nevoeiro do coração partido desorienta a nossa vida. Ele torna difícil ver o caminho. Abaixe as suas luzes. Limpe o pára-brisa. Ande mais devagar. Faça o que quiser, nada ajuda. Quando este nevoeiro nos rodeia, nossa visão fica bloqueada e o amanhã está para sempre distante. Quando esta escuridão ondulada nos envolve, as palavras mais sinceras de ajuda e esperança não passam de frases vazias.
Se você já foi traído por um amigo, sabe o que estou dizendo. Se já foi abandonado por um cônjuge ou um pai, já viu esse nevoeiro. Se já colocou uma pá de terra sobre o caixão de um ente querido ou ficou vigiando junto ao leito de alguém que ama, você reconhece também esta nuvem.
Se já esteve neste nevoeiro, ou está nele agora, pode estar certo de uma coisa — não se encontra sozinho. Até o mais esperto dos capitães da marinha já perdeu o rumo ao aparecer essa nuvem indesejada. Como disse certo comediante: "Se os corações partidos fossem anúncios, todos apareceríamos na televisão."
Faça um retrospecto dos últimos dois ou três meses. Quantos corações partidos encontrou? Quantos espíritos feridos teve ocasião de observar? Quantas histórias de tragédias chegou a ler?
Minha própria reflexão é cautelosa:
- A mulher que perdeu o marido e o filho num terrível acidente automobilístico.
- A atraente mãe de três crianças que foi abandonada pelo cônjuge.
- O garoto atropelado e morto por um caminhão de lixo, quando saía do ônibus da escola. A mãe, que o esperava, testemunhou a tragédia.
- Os pais que encontraram o filho adolescente morto na floresta atrás de sua casa. Ele se enforcara com o próprio cinto numa árvore.
A lista continua indefinidamente. Tragédias nebulosas. Como cegam nossa visão e destroem os nossos sonhos. Esqueça todas as grandes esperanças de alcançar o mundo. Esqueça todos os planos de mudar a sociedade. Esqueça todas as aspirações de mover montanhas. Esqueça tudo isso. S6 me ajude a atravessar a noite.
O sofrimento do coração partido.
Venha comigo assistir aquela que foi talvez a noite mais enevoada da história. A cena é muito simples, você vai reconhecê-la rapidamente. Um bosque de oliveiras retorcidas. O chão coberto de pedras grandes. Um muro baixo de pedras. Uma noite escura, muito escura.
Veja agora o quadro. Olhe atentamente através da folhagem sombria. Vê aquela pessoa?
Vê aquela figura solitária? O que ele está fazendo? Deitado no chão. O rosto manchado de terra e lágrimas. Os punhos batendo no solo. Os olhos arregalados com o estupor do medo. O cabelo emaranhado por causa do suor salgado. Será aquilo sangue em sua testa?
Esse é Jesus. Jesus no Jardim do Getsêmani.
Você talvez tenha visto o retrato clássico de Cristo no jardim. Ajoelhado junto a uma grande rocha. Um alvo manto. Mãos pacificamente unidas em oração. Um olhar sereno em seu rosto. Um halo sobre a sua cabeça. Um raio de luz do céu, iluminando seu cabelo castanho dourado.
Eu não sou artista, mas posso dizer-lhe algo. O homem que pintou esse quadro não usou o evangelho de Marcos como modelo. Veja o que Marcos escreveu sobre aquela noite penosa:
"Então, foram a um lugar chamado Getsêmani; ali chegados, disse Jesus a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou orar. E, levando consigo a Pedro, Tiago e João, começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia. E lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai.
E, adiantando-se um pouco, prostrou-se em terra; e orava para que, se possível, lhe fosse poupada aquela hora. E dizia: Aba, Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres.
Voltando, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Simão, tu dormes? Não pudeste vigiar nem uma hora? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.
Retirando-se de novo, orou repetindo as mesmas palavras. Voltando, achou-os outra vez dormindo, porque os seus olhos estavam pesados; e não sabiam o que lhe responder.
E veio pela terceira vez e disse-lhes: Ainda dormis e repousais! Basta! Chegou a hora; o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos! Eis que o traidor se aproxima."[1]
Observe estas frases: “Começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia.” “Minha alma está profundamente triste.” “E, adiantando-se um pouco,prostrou-se em terra.”
Este parece um quadro de um Jesus santo, repousando na palma de Deus? De modo algum. Marcos usou tinta preta para descrever esta cena. Vemos um Jesus agonizante, lutando e se esforçando. Vemos um "homem de dores".[2] Vemos um homem enfrentando o medo, em luta com os compromissos e ansiando por alívio.
Vemos Jesus no nevoeiro de um coração partido.
O escritor de Hebreus iria dizer mais tarde, "Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte".[3]
Que descrição! Jesus sofrendo. Jesus às portas do medo. Jesus não está revestido de santidade, mas de humanidade.
Da próxima vez que o nevoeiro o envolver, você faria bem em lembrar-se de Jesus no jardim. Da próxima vez em que pensar que ninguém compreende, releia o capítulo 14 de Marcos. Da próxima vez que a autopiedade o convencer de que ninguém se importa, vá visitar o Getsêmani. E da próxima vez em que ficar imaginando se Deus realmente percebe a dor que prevalece neste poeirento planeta, ouça-o suplicando entre as árvores retorcidas.
Este é o meu ponto. Ver Deus desse modo faz maravilhas em relação ao nosso próprio sofrimento. Deus jamais foi tão humano quanto nessa hora. Deus jamais esteve mais próximo de nós do que quando sofreu. A Encarnação jamais foi tão cumprida quanto no jardim.
Como resultado, o tempo passado no nevoeiro da dor poderia ser o maior dom de Deus. Poderia ser a hora em que finalmente vemos nosso Criador. E verdade que no sofrimento Deus se assemelha mais ao homem; talvez em nosso sofrimento possamos ver a Deus como nunca antes.
Da próxima vez em que você for chamado para sofrer, observe. Talvez esse seja o ponto mais próximo em que vai estar de Deus. Preste muita atenção. Pode muito bem ser que a mão que se estende para guiá-lo para fora do nevoeiro esteja traspassada.
[1] Marcos 14:32-42
[2] Isaias 53:3
[3] Hebreus 5:7, o grifo é meu.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Capítulo Cinco: O Tesouro do Túmulo


de Max Lucado

“Então, o que devo fazer com Jesus”?
Pilatos perguntou primeiro, mas todos nós temos perguntado depois.
É uma pergunta justa. Uma pergunta necessária. O que é que você faz você com um homem assim? Ele se chamou de Deus, mas usou as roupas de um homem. Ele se chamou o Messias, mas nunca comandou um exército. Ele foi considerado como rei, mas sua única coroa foi de espinhos. Pessoas o veneraram como real, contudo seu único manto foi costurado com escárnio.
Não é de se admirar que Pilatos ficou confuso. Como você explica um homem assim?
Uma maneira é por uma caminhada. A caminhada dele. A última caminhada dele. Siga os passos dele. Fique na sombra dele. De Jericó até Jerusalém. Do templo para o jardim. Do jardim até o julgamento. Do palácio de Pilatos até a cruz de Gólgota. Olhe ele caminhando – indignado para o templo, cansado para Getsêmani, atormentado pela Via Dolorosa. E poderosamente para fora do túmulo desocupado.
Testemunhando o caminho dele, reflita sobre o seu, porque todos nós temos nosso próprio caminho para Jerusalém. Nosso próprio caminho pela religião oca. Nossa própria descida pela ladeira estreita da rejeição. E cada um de nós, como Pilatos, temos que lançar um veredicto sobre Jesus.
Pilatos ouviu a voz das pessoas e deixou Jesus para percorrer o caminho só. Será que nós vamos?
Eu espero que plantado permanentemente em sua alma esteja o momento em que o Pai lhe tocou na escuridão e lhe levou pelo caminho da liberdade. É uma memória como nenhuma outra. Porque quando ele liberta você, você está realmente livre.
Posso lhe contar minha história?
Uma aula da Bíblia numa pequena cidade ao leste do Texas. Eu não sei o que era mais notável, que um professor estava tentando ensinar o livro de Romanos para um grupo de meninos de dez anos de idade, ou que eu me lembro do que ele disse.
A sala de aula era de tamanho médio, uma das cerca de doze numa igreja pequena. Minha banca estava toda riscada e com chiclete grudado em baixo. Havia cerca de vinte delas, embora só uns quatro ou cinco estivessem ocupados.
Todos nós sentamos no fundo da sala, querendo parecer sofisticados demais para estar interessados. Calças jeans engomadas. Tênis da moda. Era verão e o sol que descia lentamente pintava a janela de ouro.
O professor era um homem sério. Eu ainda lembro da barriga dele aparecendo em baixo do terno que ele nem faz mais questão de tentar abotoar. A gravata dele acaba a meio caminho. Ele tem um sinal preto na testa, uma voz macia, e um sorriso amável. Embora ele não tenha nada a ver com as crianças de 1965, ele não sabe disso.
As anotações dele estão empilhadas em um pódio debaixo de uma Bíblia preta pesada. Ele está de costas para nós e o terno dele sobe e desce enquanto ele escreve no quadro. Ele fala com paixão genuína. Ele não é um homem dramático, mas esta noite ele está fervoroso.
Só Deus sabe por que eu o ouvi naquela noite. O texto dele era Romanos capítulo seis. O quadro-negro ficou coberto com diagramas e palavras longas. Em algum momento no processo de descrever como Jesus entrou no túmulo e depois saiu, aconteceu. A jóia da graça foi erguida e virada para que eu pudesse vê-la de um ângulo novo... e tirou minha respiração.
Eu não vi um código moral. Eu não vi uma igreja. Eu não vi os dez mandamentos ou demônios infernais. Eu vi meu Pai entrar na minha noite escura, me despertar do meu sono, e suavemente me guiar – não, me carregar para a liberdade.
Eu não disse nada a meu professor. Eu não disse nada a meus amigos. Eu nem sei se falei qualquer coisa a Deus. Eu não sabia o que dizer. Eu não sabia o que fazer. Mas para tudo que eu não sabia, havia um fato do qual eu estava absolutamente seguro: eu queria estar com ele.
Eu falei para meu pai que eu estava pronto para entregar a minha vida a Deus. Ele pensou que eu era muito jovem para tomar esta decisão. Ele perguntou o que eu sabia. Eu lhe falei que Jesus estava no céu e eu queria estar com ele. E para meu pai aquilo era o bastante.
Até hoje eu fico em dúvida se meu amor já foi tão puro quanto naquela hora. Eu tenho saudades da certeza da minha fé principiante. Se você tivesse me falado que Jesus estava no inferno, eu teria concordado em ir. Confissão pública e batismo vieram naturalmente para mim.
Você vê, quando seu Pai vem lhe libertar de escravidão, você não faz perguntas; você obedece instruções. Você segura a mão dele. Você caminha o caminho. Você deixa para trás a escravidão. E você nunca, nunca esquece.
Minha oração é que você nunca esqueça de seu caminho ou do dele: O caminho final de Jesus de Jericó para Jerusalém. Porque foi este caminho que lhe garantiu liberdade.
O passeio final dele pelo templo em Jerusalém. Foi neste caminho que ele denunciou a religião oca.
O passeio final dele para o Monte das Oliveiras. Porque foi ali que ele prometeu voltar e levá-lo para casa.
E o caminho final dele do palácio de Pilatos para a cruz de Gólgota. Pés descalços e ensangüentados se esforçam para subir um estreito caminho pedregoso. Mas igualmente vívida como a dor da viga atrás as suas costas dilaceradas, é a visão que ele tem de você e ele caminhando juntos.
Ele podia ver a hora em que ele entraria em sua vida, em seu quarto escuro lhe despertando do seu sono para lhe guiar à liberdade.
Mas o caminho não terminou. A viagem não está completa. Há mais um caminho que deve ser trilhado.
“Eu voltarei,” ele prometeu. E para provar isso ele rasgou em dois o véu do templo e estourou os portões da morte. Ele voltará.
“Aquele que nos resgatou voltou!” nós vamos clamar.
E a viagem terminará e nós tomaremos nossos lugares no banquete dele. . . para sempre. Te vejo à mesa.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Capítulo Quatro: Eis o Cordeiro de Deus


de Max Lucado

Senhor? Sim.
Pode ser que eu esteja errando ao dizer isso, mas preciso lhe dizer algo que estou pensando.
Pode falar.
Eu não gosto deste versículo: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Não parece com você; não parece algo que o senhor diria.
Normalmente eu adoro quando você fala. Eu escuto quando você fala. Eu imagino o poder de sua voz, o trovoar dos seus mandamentos, o dinamismo em suas ordens. Isso é o que eu gosto de ouvir.
Lembre-se da canção de criação que você cantou na silenciosa eternidade? Ah, agora isso é você. Este era o ato de um Deus!
E quando você ordenou as ondas a salpicarem e elas rugiram, quando você mandou que as estrelas fossem arremessadas e elas voaram, quando você proclamou que a vida fosse vivida e tudo começou? . . . Ou o sussurro de respiração no barro assado que seria Adão? Isso era o seu melhor. É assim que eu gosto de lhe ouvir. Esta é a voz que eu adoro ouvir.
É por isso que eu não gosto deste versículo. É realmente você falando? Essas palavras são realmente suas? Essa é de fato sua voz? A voz que acendeu um arbusto, dividiu um mar, e enviou fogo de céu?
Mas desta vez sua voz é diferente.
Olhe para a declaração. Há um “por que” no início e um ponto de interrogação ao fim. Você não faz perguntas.
O que aconteceu com o ponto de exclamação? Esta é sua marca registrada. Esta é sua assinatura. A marca tão alta e forte quanto as palavras que precedem.
Está no fianl de seu comando para Lázaro: “Venha!”[1]. Está lá quando você exorciza os demônios: “Vá!”[2]
Está lá tão valentemente quanto você quando você caminha por sobre as águas e fala para os seguidores: “Tenham Coragem!”[3]
Suas palavras merecem um ponto de exclamação. Eles são o estrondo de címbalos do final, o tiro de canhão de vitória, a trovada conquistadora de carruagens.
Seus verbos abrem desfiladeiros e acendem os discípulos. Fale, Deus! Você é o ponto de exclamação da própria vida. . .
Então, por que o ponto de interrogação que paira sobre o término de suas palavras? Delicado. Dobrado e curvado. Inclinado como se estivesse cansado. Tomara que você o endireitasse. Estire. Faça-o ficar reto e alto.
E já que estou sendo bem franco com você – eu também não gosto de ver a palavra abandonar. A fonte de vida. . . abandonado? O doador de amor. . , só? O pai de tudo. . . isolado?
Veja bem. Certamente você não quer dizer isso. Pode a divindade se sentir abandonada? Nós poderíamos mudar um pouco a declaração? Não muito. Só o verbo. O que você sugeriria?
Que tal desafio? “Meu Deus, meu Deus, por que me desafiaste?”
Não é melhor? Agora nós podemos aplaudir. Agora nós podemos erguer bandeiras para sua dedicação. Agora nós podemos explicar isso aos nossos filhos. Agora faz sentido. Agora, isso lhe faz um herói. Um herói. A história está cheia de heróis.
E quem é um herói senão aquele que sobrevive a um desafio.
Ou, se isso não for aceitável, eu tenho outro. Por que não aflição? “Meu Deus, meu Deus, por que me afligiste?” Sim, é isso mesmo. Agora você é um mártir, fincando o pé para a verdade. Um patriota, perfurado pelo mal. Um soldado nobre que levou a espada toda até o cabo; ensangüentado e machucado, mas vitorioso.
Afligido é muito melhor que abandonado. És um mártir. Lá bem ao lado de Patrick Henry e Abraham Lincoln.
Você é Deus, Jesus! Você não pôde ser abandonado. Você não pôde ser deixado só. Você não pôde ser abandonado em seu momento mais doloroso.
Abandono. Isso é o castigo para um criminoso. Abandono. Isso é o sofrimento agüentado pelos piores. Abandono. Isso é para o vil – não para você. Não você, o Rei de Reis. Não você, o Princípio e o Fim. Afinal de contas, não foi você que João chamou de Cordeiro de Deus?
Isso é que é nome! Isso é que é você. O Cordeiro imaculado e puro de Deus. Eu posso ouvir João dizendo as palavras. Eu posso vê-lo erguendo os olhos. Eu o vejo sorrir e apontar para você e proclamar alto o bastante para todo o Jordão ouvir, “Veja o Cordeiro de Deus. . .” E antes dele terminar a declaração, todos os olhos viram para você. Jovem, bronzeado, robusto. Ombros largos e braços fortes.
“Veja o Cordeiro de Deus. . .” Você gosta daquele versículo?
Eu gosto muito. Deus. É um dos meus favoritos. É você. E a Segunda parte?
Hummm, deixe-me ver se eu me lembro. “Veja o Cordeiro de Deus que veio tomar o pecado do mundo”.[4] Não é isso, Deus?
É isso aí. Pense no que o Cordeiro de Deus veio fazer.
“Que veio tomar o pecado do mundo.” Espere um minuto. “Tomar o pecado. . .” Eu nunca tinha pensado nessas palavras.
Eu as li mas nunca pensei sobre elas. Eu pensei que, sei lá, você simplesmente tivesse mandado o pecado embora. Baniu-o. Eu pensei que você apenas tinha ficado diante das montanhas de nossos pecados e as mandado sumir. Como você fez com os demônios. Como você fez com os hipócritas no templo.
Eu pensei que você simplesmente tinha mandado o mal embora. Eu nunca notara que você o tinha tomado. Nunca me ocorreu que você de fato o tocou - pior ainda, que o pecado lhe tocou.
Isso dever ter sido um momento terrível. Eu sei o que é ser tocado por pecado. Eu sei o que é sentir o fedor dele. Lembra como eu era antes? Antes de eu lhe conhecer, eu me espojei naquele lamaçal. Eu não só toquei pecado, eu o amei. Eu o bebi. Eu dancei com ele. Eu estava no meio dele.
Mas por que eu estou lhe falando? Você se lembra. Foi você que me viu. Foi você que me achou. Eu estava só. Eu tinha medo. Lembra? “Por que? Por que eu? Por que estou tão machucado?”
Eu sei que não era uma boa pergunta. Não era a pergunta certa. Mas era tudo eu conseguia perguntar. Veja, Deus, eu me sentia tão confuso. Tão desolado. Pecado faz isso com você. Pecado lhe deixa naufragado, órfão, à toa, aban–
Ó Meu Deus. Foi isso que aconteceu? Quer dizer que o pecado fez o mesmo a você que fez a mim?
Eu sinto muito. Ó, eu sinto tanto. Eu não sabia. Eu não entendi. Você realmente estava só, não foi?
Sua pergunta foi real, não foi, Jesus? Você realmente sentiu medo. Você realmente estava só. Como eu estava. Só que, eu merecia. Você não.
Perdoe-me, eu falei sem pensar.
[1] João 11:43
[2] Mateus 8:32
[3] Mateus 14:27
[4] João 1:29

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Capítulo Três: O Julgamento


de Max Lucado

O julgamento mais famoso da história está a ponto de começar. O juiz é baixinho, mas tem ar de aristocrata, olhar furtivo e roupas finas. Seu cabelo grisalho é bem aparado e seu rosto sem barba. Ele está apreensivo, nervoso por ser empurrado para uma decisão que ele não pode evitar. Dois soldados o conduzem na descida dos degraus de pedra da fortaleza para o pátio maior. Raios de luz solar matutina atravessam o chão de pedra.
Quando ele entra, soldados sírios vestindo togas se apressam para ficar em pé, suas lanças para cima, olhares para a frente. O chão no qual eles estão em pé é um mosaico de pedras marrons, largas e lisas. No chão estão riscados os jogos que os soldados usam para se divertir enquanto esperam a condenação de um prisioneiro.
Mas na presença do procurador, eles não jogam.
Uma cadeira real é colocada numa elevação cinco degraus acima do chão. O magistrado sobe e toma o assento dele. O acusado é trazido para a sala e colocado debaixo dele. Um punhado de líderes religiosos em seus mantos seguem, andam para um lado do quarto, e esperam.
Pilatos olha para a figura solitária.
"Não se parece com um Cristo", ele murmura.
Pés inchados e barrentos. Mãos bronzeadas. Juntas encaroçadas.
Parece mais com um trabalhador braçal do que um professor. O que menos parece é encrenqueiro.
Um olho está preto, inchado e fechado. O outro olha ao chão. Lábio inferior partido e coberto por uma casca. Cabelo ensangüentado, emaranhado à testa. Braços e coxas riscados com vermelho.
“Quer que removamos o manto”? um soldado pergunta.
“Não. Não é necessário”.
É óbvio o que o açoite fez.
“Você é o rei dos judeus”?
Pela primeira vez, Jesus ergue os olhos. Ele não eleva a cabeça, mas ele ergue os olhos. Ele olha para o procurador por baixo da sobrancelha dele. Pilatos está surpreso com o tom na voz de Jesus.
“Essas são suas palavras.”
Antes que Pilatos possa responder, o nó de líderes judeus escarnecem o acusado do lado do tribunal.
“Veja como ele não tem nenhum respeito.”
“Ele incita as pessoas”!
“Ele se diz ser rei”!
Pilatos não os ouve. “Essas são suas palavras.” Nenhuma defesa. Nenhuma explicação. Nenhum pânico. O Galileu está olhando novamente para o chão.
Pilatos olha para os líderes judeus grudados um no outro no canto do tribunal. A insistência deles o chateia. Não bastam as chicotadas. O escárnio é insuficiente. Ciumentos, ele quer dizer na cara deles, mas não faz. Urubus Ciumentos, o bando obstinado inteiro de vocês. Matando seus próprios profetas.
Pilatos quer soltar Jesus. Dê-me apenas uma razão, ele pensa, quase em voz alta. Eu lhe soltarei.
Os pensamentos dele estão interrompidos por um toque no ombro. Um mensageiro se abaixa e sussurra. Estranho. A esposa de Pilatos disse para ele não se envolver no caso. Algo sobre um sonho que ela teve.
Pilatos anda por trás da cadeira dele, senta, e olha fixamente para Jesus. “Até mesmo os deuses estão de seu lado”? ele declara sem explicação.
Ele já sentou nesta cadeira antes. É uma cadeira curul (reservada ao uso das mais altas autoridades): azul de cobalto com pernas grossas e ornamentadas. O assento tradicional de decisão. Sentando nele Pilatos transforma qualquer sala ou rua numa sala de tribunal. É daqui que ele faz as decisões dele.
Quantas vezes ele já sentou aqui? Quantas histórias já ouviu? Quantos argumentos ele já recebeu? Quantos olhos largos o encararam, rogando por clemência, mendigando uma absolvição?
Mas os olhos deste Nazareno estão tranqüilos, silenciosos. Eles não gritam. Eles não correm. Pilatos os examina, procurando ansiedade. . . procurando raiva. Ele não encontra. O que ele descobre o faz mexer novamente.
Ele não está bravo comigo. Ele não tem nenhum medo. . . ele parece entender.
Pilatos está certo na observação dele. Jesus não tem medo. Ele não está bravo. Ele não está à beira de pânico. Porque ele não está surpreso. Jesus conhece a hora dele e a hora chegou.
Pilatos tem motivo para sua curiosidade. Onde estão os seguidores dele, se é que ele é um líder? O que ele pretende fazer, se ele é um Messias? Por que os líderes religiosos estão tão bravos com ele, se ele é um professor?
Pilatos também está correto na pergunta dele. "O que eu deveria fazer com Jesus, chamado o Cristo? "[1]
Talvez você, como Pilatos, está curioso sobre este homem chamado Jesus. Você, como Pilatos, está confuso com suas declarações e mexido com suas paixões. Você ouviu as histórias: Deus descendo as estrelas, encarnando, colocando uma estaca de verdade no globo. Você, como Pilatos, ouviu os outros falarem; agora você gostaria que ele falasse.
O que você faz com um homem que declara ser Deus, mas que odeia religião? O que você faz com um homem que se chama o Salvador, mas que condena sistemas? O que você faz com um homem que conhece o lugar e hora da sua morte, contudo vai lá de qualquer maneira?
A pergunta de Pilatos é sua. "O que farei eu com este homem, Jesus?"
Você tem duas escolhas.
Você pode rejeitá-lo. Isso é uma opção. Você pode, como muitos têm feito, decidir que a idéia de Deus se tornar um carpinteiro é estranha demais - e cair fora.
Ou você pode aceitá-lo. Você pode viajar com ele. Você pode escutar a voz dele entre centenas de outras vozes e segui-lo. Pilatos poderia ter feito isso. Ele ouviu muitas vozes naquele dia - ele poderia ter ouvido a Cristo. Se Pilatos escolhido tivesse escolhido responder ao Messias machucado, a história dele teria sido diferente.
Pilatos vacila. Ele é um cachorrinho ouvindo duas vozes. Ele anda em direção a um, então pára, e anda em direção à outra. Quatro vezes ele tenta livrar o Jesus, e quatro vezes ele balança para o outro lado. Ele tenta dar Barrabás para as pessoas; mas eles querem Jesus. Ele envia Jesus ao poste de chicoteamento; eles querem que ele seja mandado para o Gólgota. Ele declara que não acha nada de errado com este homem; eles acusam Pilatos de violar a lei. Pilatos, temendo quem Jesus poderia ser, tenta libertá-lo uma última vez; os judeus o acusam de trair César.
Tantas vozes. A voz do acordo. A voz da conveniência. A voz da política. A voz da consciência.
E a voz firme e branda de Cristo. "O único poder que você tem sobre mim é o poder dado a você por Deus". [2]
A voz de Jesus é distinta. Sem igual. Ele não bajula, nem implora. Ele só declara o caso.
Pilatos pensou que ele poderia evitar fazer uma escolha. Ele lavou as mãos dele em relação a Jesus. Ele subiu na cerca e se sentou.
Mas, ao não fazer uma escolha, Pilatos fez uma escolha.
Em lugar de pedir a graça de Deus, ele pediu um uivo. Em lugar de convidar Jesus a ficar, ele o despachou. Em lugar de ouvir a voz de Cristo, ele ouviu a voz das pessoas.
Diz a lenda que a esposa de Pilatos se tornou uma crente. Diz a lenda que a casa eterna de Pilatos é um lago numa montanha onde ele vem à superfície diariamente, ainda mergulhando suas mãos na água em busca perdão. Sempre tentando lavar a culpa dele . . . não do mal que ele fez, mas da bondade que ele não fez.
[1] Mateus 27:22
[2] João 18:34

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Capítulo Dois: No Jardim


de Max Lucado

É quase meia-noite quando eles deixam o cenáculo e descem pelas ruas da cidade. Eles passam pelo Tanque Inferior e passam pelo Portão da Fonte, saindo de Jerusalém. As estradas estão forradas com os fogos e barracas de peregrinos da Páscoa. A maioria está dormindo, fartos com a refeição da noite. Aqueles ainda acordados não dão importância ao bando de homens que caminham pela estrada calcária.
Eles atravessam o vale e sobem o caminho que os levará a Getsêmani. A estrada é íngreme e eles param para descansar. Em algum lugar dentro das muralhas da cidade o décimo segundo apóstolo desce sorrateiramente uma rua. Os pés dele foram lavados pelo homem que ele trairá. O coração dele foi tomado pelo Maligno que ele ouviu. Ele corre para encontrar Caifás.
O encontro final da batalha começou.
Quando Jesus observa a cidade de Jerusalém, ele vê o que os discípulos não podem. É aqui, nos arredores de Jerusalém que a batalha terminará. Ele vê as manobras de Satanás. Ele vê o corre-corre dos demônios. Ele vê o Maligno se preparando para o encontro final. O inimigo olha como um espectro aquela hora. Satanás, o anfitrião do ódio, agarrou o coração de Judas e sussurrou na orelha de Caifás. Satanás, o mestre da morte, abriu as cavernas e se preparou para receber a fonte de luz.
O inferno está se soltando.
A história registra isso como a batalha dos judeus contra Jesus. Não era. Era uma batalha de Deus contra Satanás.
E Jesus sabia disso. Jesus sabia que antes que a guerra acabasse, ele seria levado cativo. Ele sabia que antes da vitória viria a derrota. Ele sabia que antes do trono viria o cálice. Ele sabia que antes da luz de domingo viria a escuridão de sexta-feira.
E ele tem medo.
Ele vira e começa a subida final até o jardim. Quando ele chega à entrada, ele pára e volta os olhos para o círculo de seus amigos. Será a última vez que ele os vê, antes deles o abandonarem. Ele sabe o que farão quando os soldados vierem. Ele sabe que até a traição deles falta poucos minutos.
Mas ele não acusa. Ele não dá carão. Ao invés disso, ele ora. Os últimos momentos dele com os seus discípulos são em oração. E as palavras que ele fala são tão eternas quanto as estrelas que as ouvem.
Imagine, por um momento, você mesmo nesta situação. Sua hora final com um filho prestes a ser enviado para uma terra distante. Seus últimos momentos com seu cônjuge que está morrendo. Uma última visita com seu pai. O que você diz? O que você faz? Que palavras você escolhe?
É notável que Jesus decidiu orar. Ele decidiu orar por nós. “Eu não estou orando somente por eles, mas também por aqueles que ainda vão acreditar em mim por intermédio do ensino deles, para que todos sejam um só. Pai, oro também para que eles estejam em nós, assim como eu estou no senhor e o senhor está em mim. Que eles sejam um para que o mundo acredite que o senhor me enviou.” [1]
Você precisa prestar atenção que nesta oração final Jesus orou por você. Você precisa grifar em vermelho e realçar em amarelo o amor dele: “Eu também estou orando por aqueles que ainda vão acreditar em mim por intermédio do ensino”. Isso é você. Enquanto Jesus entrou no jardim, você estava na oração dele. Quando Jesus olhou ao céu, você estava na visão dele. Quando Jesus sonhou com o dia em que nós estaríamos com ele, ele viu você lá.
A oração final dele era por você. A dor final dele era para você. A paixão final dele era você. Ele vira então, entra no jardim, e convida Pedro, Tiago e João a seguirem. Ele lhes diz que a alma dele “está profundamente triste, até à morte”, e começa a orar.
Ele nunca se sentiu tão só. O que deve ser feito, só ele pode fazer. Nenhum anjo pode fazer. Nenhum anjo tem o poder para quebrar os portões de inferno. Nenhum homem pode fazer. Nenhum homem tem a pureza para destruir o controle do pecado. Nenhuma força na terra pode enfrentar o poder do mal e ganhar, exceto Deus.
“O espírito está disposto, mas a carne é fraca”, Jesus confessa.
Sua humanidade implorou par ser livrado daquilo que sua divindade poderia ver. Jesus, o carpinteiro, roga. Jesus, o homem, olha para dentro do buraco escuro e implora, “será que não pode haver outro jeito?”
Será que ele sabia da resposta antes que ele fez a pergunta? Será que seu coração humano imaginava que seu pai divino havia achado outra maneira? Nós não sabemos. Mas nós sabemos que ele pediu para escapar. Nós sabemos ele implorou por uma saída. Nós sabemos que havia um momento, no qual, se ele pudesse, ele teria se retirado da enrascada toda e ido embora.
Mas ele não pôde. Ele não pôde porque ele viu você. Aí mesmo no meio de um mundo que não é justo. Ele lhe viu num rio de vida que você não pediu. Ele lhe viu traído por aqueles que você ama. Ele lhe viu com um corpo que adoece e um coração que cresce enfraquece.
Ele viu você em seu próprio jardim de árvores tortas e amigos adormecidos. Ele lhe viu fitando o buraco dos seus próprios fracassos e a boca de sua própria sepultura.
Ele viu você em seu próprio Jardim de Getsêmani – e ele não queria que você estivesse só. Ele queria que você soubesse que ele esteve lá também. Ele sabe o que é ser alvo de um complô. Ele sabe o que é ficar confuso. Ele sabe o que é ficar dividido entre dois desejos. Ele sabe o que é sentir o fedor de Satanás. E, talvez mais que tudo, ele sabe o que é implorar a Deus para mudar de plano e ouvir Deus dizer tão suavemente, mas firmemente, “Não”.
Pois foi isso que Deus disse a Jesus. E Jesus aceita a resposta. Em algum momento durante aquela hora de meia-noite um anjo de clemência chega para o corpo cansado do homem no jardim. Quando ele fica de pé, a angústia não mais está nos olhos dele. Seu punho não se apertará mais. O coração dele não lutará mais.
A batalha é ganha. Você pode ter pensado que foi ganha no Gólgota. Não foi. A batalha final foi ganha em Getsêmani. E o sinal da conquista é Jesus em paz entre as oliveiras.
Porque foi no jardim que ele tomou sua decisão. Ele preferiria ir para inferno por você do que ir para o céu sem você.
[1] John 17:20-21 Novo Testamento : Versão Fácil de Ler

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Capítulo Um: No Cenáculo


de Max Lucado

Introdução
É o fim da semana mais significante na história do mundo.
Uma semana de momentos finais. A última ceia entre Jesus e os apóstolos. A última vez que Jesus ora no jardim. O confronto conclusivo com os inimigos. E o encontro final com a dor.
E o evento final … uma demonstração ousada de poder divino. O Salvador enterrado libertado para uma sagrada explosão. O que era um sepulcro agora é um símbolo … marcando a maior vitória na batalha mais crucial.
Uma semana de momentos finais. Uma semana de términos. Ou, será que é do começo…?

Quando eu era um menino eu fiz parte de um grupo de jovens na igreja que levavam a ceia aos enfermos e hospitalizados. Nós visitamos aqueles que não podiam freqüentar o culto, mas ainda desejavam orar e participar da ceia. Eu devia ter uns dez ou onze anos de idade quando fomos para um quarto de hospital onde estava um senhor de idade que era muito fraco. Ele estava dormindo, então nós tentamos despertá-lo. Não conseguimos. Nós sacudimos ele, falamos com ele, batemos no ombro dele, mas nós não conseguimos acordá-lo.
Nós não queríamos partir sem realizar nosso dever, mas não sabíamos o que fazer.
Um dos jovens comigo observou que, embora o homem estivesse dormindo, a boca dele estava aberta. Por que não? Nós dissemos. Assim nós oramos pelo pão e colocamos um pedaço na língua dele. Então nós oramos pelo suco de uva e derramamos na boca dele.
Ele nunca acordou.
Como muitos hoje. Para alguns a ceia é um momento sonolento na qual são comidas bolachas e suco é bebido, mas, a alma nunca se mexe. Não era para ser assim.
Era para ser um convite do tipo Eu-não-tô-acreditando-que-é-verdade-me-dê-um-biliscão para sentar à mesa de Deus e ser servido pelo próprio Rei.
Quando você lê a versão de Mateus da Última Ceia, uma verdade incrível aparece. Jesus é a pessoa por trás de tudo. Foi Jesus que selecionou o lugar, designou o tempo, e determinou a ordem da refeição. “O meu tempo está próximo; em tua casa celebrarei a Páscoa com os meus discípulos.”[1]
E na Ceia, Jesus não é o convidado, mas o anfitrião. “E [Jesus] deu aos discípulos.” O assunto dos verbos é a mensagem do evento: “ele tomou…ele abençoou…ele partiu…ele deu….”
E, na Ceia, Jesus não é o servido, e sim, o servo. Foi Jesus que durante a ceia vestiu o traje de um servo e lavou os pés dos discípulos.[2]
Jesus é o mais ativo à mesa. Jesus não é retratado como o que reclina e recebe, mas como o que está de pé e dá.
Ele ainda faz. A Ceia do Senhor é um presente a você. A Ceia do Senhor é um sacramento,[3] não um sacrifício.[4]
Freqüentemente, nós pensamos na Ceia como uma performance, um momento quando nós estamos no palco e Deus é o público. Uma cerimônia na qual nós fazemos o trabalho e ele fica assistindo. Não era para ser assim. Se fosse, Jesus teria tomado um lugar para sentar e relaxar.[5]
Não é isso o que ele fez. Ao invés disso, Ele cumpriu seu papel como um rabino, guiando seus discípulos na comemoração da Páscoa. Ele cumpriu o papel dele como um servo lavando os pés deles. E ele cumpriu o papel dele como um Salvador lhes concedendo perdão de pecados.
Ele tomou conta. Ele ficou no meio do palco. Ele era a pessoa por trás e por dentro do momento. E ele ainda é.
É à mesa do Senhor que você senta. É a Ceia do Senhor que você toma. Da mesma maneira que Jesus rogou pelos discípulos, Jesus implora a Deus por nós.[6] Quando você é chamado à mesa, pode ser que um emissário dá a carta, mas é Jesus que a escreveu.
É um convite Santo. Um sacramento sagrado lhe implorando a deixar os afazeres da vida e entrar no esplendor dele.
Ele lhe encontra à mesa.
E quando o pão estiver partido, é Cristo que parte. Quando o vinho é vertido, é Cristo que verte. E quando seus fardos são carregados, é porque o Rei no avental chegou próximo.
Pense nisso na próxima vez que você vai para a mesa.
Um último pensamento.
O que acontece na terra há pouco é só um aquecimento para o que acontecerá no céu.[7] Assim da próxima vez que o mensageiro lhe chamar à mesa, deixe o que você estiver fazendo e vá. Seja abençoado e seja alimentado e, o mais importante, tenha certeza de ainda estar comendo à mesa dele quando ele nos chamar para nosso lar.

1 Mateus 26:18
2 João 13:5
3 Um sacramento é um presente do Deus para o povo dele.
4 Um sacrifício é um presente das pessoas para Deus.
5 Há momentos sacrificiais durante a Ceia. Nós oferecemos orações, confissões, e ações de graças como sacrifício. Mas eles são sacrifícios de ação de graças por uma salvação já recebida, não sacrifícios de serviço para uma salvação ainda desejada. Nós não dizemos, “Olha o que eu fiz.” Ao contrário, em temor, nós olhamos para Deus e adoramos o que ele fez.
Tanto Lutero como Calvino tiveram convicções fortes relativas à visão certa da Ceia do Senhor.
“Eles (os líderes religiosos) fizeram do sacramento e testamento de Deus, que deveriam ser recebidos por um bom convidado, parecerem com uma boa ação realizada por eles mesmos.” (Martin Lutero, Obras de Lutero, Edição americana, 36:49)
“Ele (Jesus) chama os discípulos a tomarem: Ele então é o único que oferece. Quando os padres fingem que eles oferecem o Cristo na Ceia, eles partem de uma base totalmente diferente. Que grande exemplo de caso virado de cabeça para baixo, que um homem mortal, para merecer o corpo de Cristo, deva agarrar para si o papel de oferecê-lo.” (João Calvino, Uma Harmonia dos Evangelhos, 1:133.) 6 Romanos 8:34
7 Lucas 12:37

domingo, 21 de agosto de 2011

Pergunta Para a Beira do Desfiladeiro


de Max Lucado

"Como passou a noite?" perguntou a enfermeira.
Os olhos cansados do jovem responderam a pergunta antes que seus lábios o fizessem. Ela fora longa e difícil. As vigílias sempre são. Mas ainda mais quando passadas com seu próprio pai.
"Ele não acordou."
O filho sentou-se junto ao leito e pegou na mão ossuda que tantas vezes segurara a sua. Ele tinha medo de largá-la por temer que fazendo isso o homem que amava tanto pudesse passar para o outro lado. Ele a segurou a noite inteira enquanto os dois ficavam à beira do desfiladeiro, cientes de que o passo final estava apenas algumas horas à sua frente.
Com palavras pintadas de preto por causa de sua perplexidade, ele resumiu os temores que o haviam acompanhado na escuridão. "Sei que tem de acontecer", disse o filho, olhando para o rosto acinzentado do pai: "s6 não sei a razão,"
O desfiladeiro da morte.
E um lugar desolado. O chão seco está gretado e sem vida. Um sol ardente aquece o vento que ruge sinistramente e atormenta sem piedade. As lágrimas queimam e as palavras saem vagarosamente, à medida que os visitantes do desfiladeiro são forçados a olhar para o barranco. O fundo da rachadura é invisível, o outro lado inacessível. Não se pode deixar de imaginar o que está escondido nas trevas. E você não pode senão querer ir embora.
Você já esteve ali? Já foi chamado para ficar junto à linha fina que separa os vivos dos mortos? Já ficou acordado à noite ouvindo o ruído das máquinas bombeando ar para dentro e para fora dos seus pulmões? Já observou a doença corroendo e atrofiando o corpo de um amigo? Já permaneceu no cemitério muito tempo depois que os outros partiram, olhando incrédulo o caixão que contém o corpo que continha a alma de alguém que não pode acreditar que se foi?
Caso positivo, este desfiladeiro não é então desconhecido para você. Já ouviu o assobio solitário dos ventos. Já ouviu as perguntas penosas "Por quê?" "Com que propósito?" ricochetearem sem resposta pelas paredes do desfiladeiro. Você desprendeu e atirou pedras da beirada, ficando à espera do som delas caírem lá embaixo, o qual nunca chega.
O jovem pai esmagou o cigarro no cinzeiro de plástico. Ele estava sozinho na sala de espera do hospital. Quanto tempo vai levar? Tudo aconteceu tão depressa! Primeiro vieram as notícias do hospital, depois a corrida desesperada para a sala de emergência e a seguir a explicação da enfermeira. "Seu filho foi atropelado por um carro. Ele tem alguns ferimentos graves na cabeça. Está na sala de cirurgia. Os médicos estão fazendo todo o possível"
Outro cigarro. "Meu Deus." As palavras do pai eram quase audíveis. "Ele só tem cinco anos."
O fato de ficar à beira do desfiladeiro coloca toda a nossa vida em perspectiva. O que importa e o que não importa é facilmente distinguível. Na beirada do desfiladeiro ninguém se preocupa com salários ou posições. Ninguém pergunta que carro você dirige ou em que bairro você mora. A medida que os humanos que envelhecem ficam junto a esse abismo eterno, todos os jogos e disfarces da vida parecem tristemente tolos.
Tudo aconteceu num instante terrível.
"Onde está a nave?" gritou um engenheiro espacial no Cabo Canaveral.
"Oh, meu Deus!" exclamou um professor que apreciava o espetáculo. "Não permita que aconteça o que eu penso que acabou de acontecer"
A confusão e o horror tomaram conta da nação enquanto nos achávamos à beira do desfiladeiro observando sete de nossos melhores astronautas se desintegrarem diante de nossos olhos quando a nave explodiu numa bola de fogo branca e alaranjada.
Mais uma vez fomos lembrados de que mesmo o melhor da nossa tecnologia continuava sendo tremendamente frágil.
É possível que eu esteja me dirigindo a alguém que se ache na beira do desfiladeiro. Alguém que você amava muito foi chamado para o desconhecido e você está só. Só com seus temores e dúvidas. Se for este o caso, por favor leia o restante do livro cuidadosamente. Observe detalhadamente a cena descrita em João 11.
Nesta cena há duas pessoas: Marta e Jesus. E para todos os propósitos práticos eles são as duas únicas pessoas no universo.
As palavras dela estavam cheias de desespero, "Se estiveras aqui..." Ela olha para o Mestre com os olhos cheios de perplexidade. Mostrara-se forte até então, mas agora a dor ressurgira em toda a sua plenitude. Lázaro estava morto. Seu irmão se fora. E o único homem que poderia ter mudado as coisas não aparecera. Não chegara nem mesmo para o funeral. Alguma coisa na morte nos leva a acusar Deus de traição. "Se Deus estivesse aqui não haveria morte!" clamamos.
Veja bem, se Deus é Deus em qualquer parte, ele tem de ser Deus em face da morte. A psicologia popular pode tratar da depressão. A conversa estimulante pode tratar do pessimismo. A prosperidade vence a fome. Mas só Deus pode tratar de nosso dilema final — a morte. E só o Deus da Bíblia teve a ousadia de ficar na beira do desfiladeiro e oferecer uma resposta. Ele tem de ser Deus em face da morte. Caso contrário, não é Deus em lugar algum.
Jesus não ficou zangado com Marta. Talvez fosse a sua paciência que a fez mudar de tom, da frustração para a sinceridade. "Tudo quanto pedirdes a Deus, Deus to concederá".
Jesus fez então uma das afirmações que o colocam no trono ou no asilo: "Teu irmão há de ressurgir".
Marta não compreendeu. (Quem compreenderia?) "Eu sei que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia."
Não era esse o sentido das palavras de Jesus. Não perca a idéia do contexto das próximas palavras. Imagine a cena: Jesus invadiu o campo do inimigo. Ele está em território de Satanás, o Desfiladeiro da Morte. Seu estômago se revolta ao sentir o cheiro terrível de enxofre do ex-anjo, e estremece ao ouvir os gemidos pungentes dos que estão encerrados na prisão. Satanás esteve aqui. Ele violou uma das criações de Deus.
Com o pé plantado sobre a cabeça da serpente, Jesus fala alto o bastante para suas palavras ecoarem pelas paredes do desfiladeiro.
"Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim, não morrerá, eternamente" (Jo 11.25).
É um ponto crítico na história. Abriu-se uma brecha na armadura da morte. As chaves para os portais do inferno foram reclamadas. Os abutres se dispersam e os escorpiões correm velozes quando a Vida confronta a morte — e vence! O vento pára. Uma nuvem esconde o sol e um pássaro chilreia na distância enquanto uma víbora humilhada rasteja entre as rochas e desaparece no solo.
O cenário foi montado para um confronto no Calvário.
Mas Jesus não terminou ainda sua conversa com Marta. Com os olhos fixos nos dela ele faz a maior pergunta encontrada nas Escrituras, uma pergunta dirigida tanto a você e a mim como a Marta. "Crês isto?" Aí está ela. A última linha. A dimensão que separa Jesus de milhares de gurus e profetas que surgiram. A pergunta que leva todo ouvinte responsável à obediência absoluta ou à total rejeição da fé cristã. "Crês isto?"
Deixe que a pergunta entre em seu coração por um momento. Você acredita que um itinerante jovem e sem dinheiro seja maior do que a sua morte? Você acredita sinceramente que a morte nada mais é do que uma rampa de acesso para uma nova estrada?
"Crês isto?"
Jesus não fez essa pergunta como um tópico para discussão nas escolas dominicais. Ela jamais foi proferida para ser tratada enquanto se aproveita o sol que entra pelo vitral ou enquanto ficamos sentados nos bancos confortáveis.
Não. Esta é uma pergunta do desfiladeiro. Uma indagação que só faz sentido durante uma vigília noturna ou no silêncio de salas de espera enfumaçadas. Uma pergunta que faz sentido quando todos os nossos apoios, muletas e fantasias foram removidos. Pois então temos de enfrentar a nós mesmos como realmente somos: seres humanos desnorteados correndo em direção ao desastre. E somos forçados a vê-lo segundo aquilo que afirma ser: nossa única esperança.
Tanto por desespero como por inspiração, Marta disse sim. Ao estudar o rosto bronzeado daquele carpinteiro Galileu, algo lhe disse que provavelmente jamais chegaria mais perto da verdade do que estava então. Ela deu-lhe assim a mão e permitiu que a levasse para longe do desfiladeiro.
"Eu sou a ressurreição e a vida. Crês isto?"

sábado, 20 de agosto de 2011

Carmelita


de Max Lucado
O ar quente pairava pesado na pequena capela do cemitério. Os que tinham leques usavam-nos para refrescar-se. Havia muita gente. As poucas cadeiras colocadas foram logo ocupadas. Eu encontrei um canto vazio de um lado e fiquei ali de pé, observando meu primeiro funeral brasileiro.
Sobre suportes no meio da capela tinha sido colocado o caixão e nele o corpo de uma mulher morta num acidente de carro na véspera. O nome dela era Dona Neusa. Eu a conhecia por ser mãe de um de nossos primeiros convertidos, Cesar Coutinho. Ao lado do caixão: Cesar, sua irmã, outros parentes e alguém muito especial com o nome de Carmelita.
Ela era uma mulher alta, de pele escura, quase negra. Naquele dia seu vestido era simples e seu rosto solene. Ela olhava fixamente para o caixão com seus olhos castanhos e fundos. Havia algo de nobre na maneira como ficava ali de pé ao lado do corpo. Ela não chorava aberta-mente como os demais. Nem procurava consolo com os outros enlutados. Ela só ficou ali, curiosamente quieta.
Na noite anterior eu acompanhara Cesar na delicada missão de contar a Carmelita que Dona Neusa morrera. Enquanto nos dirigíamos para a casa dela, ele explicou-me como Carmelita fora adotada em sua família.
Mais de vinte anos antes, a família de Cesar visitara uma pequena cidade no interior do Brasil. Eles encontraram ali Carmelita, uma órfã de sete anos, vivendo com parentes pobres. A mãe dela tinha sido uma prostituta. Ela nunca conhecera o pai. Depois de ver a criança, Dona Neusa sentiu-se comovida, sabendo que se não interferisse, a pequena Carmelita estava condenada a uma vida sem amor nem atenção. Por causa da compaixão de Dona Neusa, Cesar e sua família voltaram para casa com um novo membro.
Enquanto eu me encontrava ali na capela funerária e olhava para o rosto de Carmelita, tentei imaginar as suas emoções. Como a vida dela tinha mudado. Fiquei pensando se a sua mente revivia as lembranças da infância quando subira num carro e se afastara para viver com uma família estranha. Num momento ela não tinha amor, um lar, nem um futuro; no momento seguinte obtivera essas três coisas.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo ruído de pés se arrastando. O velório terminara e as pessoas deixavam a capela para assistir ao enterro. Por causa de minha posição, bem no canto do prédio, fui o último a sair. Ou pelo menos pensei que fora. Enquanto andava ouvi uma voz suave atrás de mim. Voltei-me e vi Carmelita chorando silenciosamente ao lado do caixão. Comovido, parei na porta da capela e assisti o seu tocante "adeus". Carmelita estava sozinha pela última vez com sua mãe adotiva. Havia sinceridade em seus olhos. Era como se ela tivesse uma tarefa final a cumprir. Ela não se lamentou em voz alta, nem gritou de dor. Simplesmente inclinou-se sobre o caixão e o acariciou ternamente como se fosse o rosto da mãe. Com lágrimas silenciosas caindo sobre a madeira polida ela repetiu várias vezes, "Obrigada, obrigada".
Uma despedida final de gratidão.
Ao voltar para casa pensei que nós, de muitas formas, somos como Carmelita. Nós também somos órfãos amedrontados. Nós também não tínhamos nem ternura nem aceitação. E nós também fomos resgatados por um visitante compassivo, um pai generoso que nos ofereceu uma casa e seu nome.
Nossa resposta deveria ser exatamente a mesma de Carmelita, uma reação comovente de gratidão sincera pela nossa libertação. Quando ninguém mais daria por nós nem sequer o tempo de um dia, o Filho de Deus nos deu o tempo de nossa vida!
Nós também deveríamos nos colocar na companhia silenciosa daquele que nos salvou, e chorar lágrimas de gratidão, oferecendo palavras de agradecimento. Pois não foram nossos corpos que ele resgatou, mas nossas almas.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Volte Para Casa


de Max Lucado
A prática de usar coisas terrenas para esclarecer verdades celestiais não é uma tarefa fácil. Todavia, ocasionalmente, encontramos uma história, uma lenda ou fábula que transmite uma mensagem tão exatamente como centenas de sermões e com uma criatividade dez vezes maior. Esse é o caso da leitura abaixo. Eu a ouvi contada pela primeira vez por um pregador brasileiro em São Paulo. Embora a tivesse repetido inúmeras vezes, sua mensagem me aquece e me dá nova segurança sempre que faço uma recapitulação da história.
A casinha era simples mas adequada. Ela consistia de um quarto amplo numa rua empoeirada. Seu telhado de telhas vermelhas era um dentre os muitos naquele bairro pobre na periferia da cidade. Era uma casa confortável. Maria e sua filha, Cristina, haviam feito o possível para acrescentar cor às paredes cinzentas e calor ao chão de terra batida: um velho calendário, uma fotografia desbotada de um parente, um crucifixo de madeira. A mobília era modesta: um catre em cada lado do quarto, uma pia e um fogão a lenha.
O marido de Maria morrera quando Cristina era criança. A jovem mãe, recusando teimosamente casar-se de novo, arranjou um emprego e criou a filha do`melhor modo que pôde. Agora, quinze anos mais tarde, os piores anos tinham passado. Embora o salário de doméstica recebido por Maria não lhes permitisse muitos luxos, ele era certo e fornecia às duas alimento e roupas. Cristina tinha também chegado a uma idade em que poderia arranjar um emprego e ajudar a mãe.
Alguns diziam que Cristina puxara à mãe em sua independência. Ela repelia a idéia de casar-se cedo e criar uma família, embora pudesse escolher entre vários pretendentes. Sua pele morena e olhos castanhos atraíam uma série de candidatos à sua porta. Ela tinha um jeito especial de jogar a cabeça para trás e encher o ambiente de riso. Tinha também aquela magia rara que algumas mulheres têm de fazer com que o homem se sinta um rei só por estar a seu lado. Mas a sua maneira irônica de tratar as pessoas mantinha todos os homens a uma certa distância.
Cristina falava muito de ir para a cidade. Ela sonhava em trocar seu bairro poeirento por avenidas suntuosas e a vida citadina. Essa idéia horrorizava a mãe. Maria imediatamente lembrava Cristina dos males das cidades grandes. "As pessoas não conhecem você. Os empregos são difíceis de achar e a vida é cruel. Além disso, se fosse para lá, como iria viver?"
Maria sabia exatamente o que Cristina faria, ou teria de fazer para sustentar-se. Foi por isso que seu coração partiu-se ao acordar certa manhã e ver vazio o leito da filha. Maria soube na mesma hora para onde ela havia ido e sabia também o que deveria fazer para encontrá-la bem depressa. Jogou algumas roupas na mala, reuniu todo o dinheiro que tinha e saiu correndo de casa.
A caminho do ponto de ônibus entrou numa lojinha para a última compra. Fotos. Ela sentou-se na cabine de fotografia, fechou a cortina e tirou fotos suas, gastando quanto pôde. Com a bolsa cheia de fotografias preto-e-branco de si mesma, ela tomou o primeiro ônibus que saía para o Rio de Janeiro.
Maria tinha certeza que Cristina não conseguiria ganhar dinheiro com facilidade. Sabia, entretanto, que ela era teimosa demais para desistir. Quando o orgulho se encontra com a fome, o ser humano faz coisas que jamais pensava fazer antes. Tendo conhecimento disto, Maria começou suas busca. Bares, hotéis, boates, qualquer lugar onde pudesse ha-ver uma meretriz ou prostituta. Foi a todos. E em cada lugar deixou sua foto — colada no espelho do banheiro, pregada num quadro de avisos de hotel, presa numa cabine telefônica. E no verso de cada uma escreveu uma nota.
Não demorou muito para que o dinheiro e as fotografias acabassem e Maria teve de voltar para casa. A mãe cansada chorou enquanto o ônibus iniciava sua longa jornada de volta para sua cidadezinha.
Algumas semanas depois a jovem Cristina desceu as escadas do hotel. Seu rosto mostrava-se pálido. Seus olhos castanhos não dançavam mais, alegres e buliçosos, mas falavam de sofrimento e medo. Seu riso se fora. Os sonhos que tivera se transformaram em pesadelo. Mil vezes quisera trocar aqueles inúmeros leitos por seu catre seguro. Todavia, a cidadezinha em que vivera se tornara de muitas formas distante demais.
Ao chegar ao pé da escada, seus olhos notaram um rosto familiar. Ela olhou de novo e ali no espelho do saguão estava uma fotografia da mãe. Os olhos de Cristina queimaram e sua garganta contraiu-se, enquanto atravessava o salão e removia a pequena foto. Escrita no verso da mesma, achava-se este convite atraente: "O que quer que você tenha feito, o que quer que se tenha tornado, não importa. Por favor, volte para casa."
Foi o que ela fez.
"Ele (o Filho) que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser..."

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A Sede Satisfeita


de Max Lucado

"MAMÃE, ESTOU COM MUITA SEDE. QUERO ÁGUA!"
Susanna Petroysan ouviu o pedido de sua filha, mas não podia fazer nada. Ela e sua filha de quatro anos, Gayaney, estavam debaixo de toneladas de aço e concreto. Ao seu lado, no escuro, estava o corpo da nora de Susanna, Karine, uma das 55 mil vítimas do pior terremoto na história da Armênia.
A calamidade nunca bate antes de entrar e, dessa vez, ela derrubou a porta.
Susanna tinha ido à casa de Karine provar um vestido. Era 7 de dezembro de 1988, 11h30 da manhã. O tremor de terra ocorreu às 11h41. Ela havia tirado o vestido e estava apenas de meias e anágua quando o quinto andar do edifício começou a tremer. Susanna agarrou sua filha e deu apenas alguns passos quando o piso se abriu e elas caíram. Susanna, Gayaney e Karine caíram no subsolo do prédio de nove andares, cercadas de escombros.
"Mamãe, eu estou com muita sede. Por favor, me dê alguma coisa para beber!"
Não havia nada que Susanna pudesse fazer.
Ela estava deitada debaixo dos escombros. Uma viga de concreto sobre sua cabeça e um cano d'água sobre os ombros a impediam de se levantar. Tateando no escuro, ela encontrou um pote de geléia que havia caído no porão. Ela deu toda a geléia para sua filha comer. Já havia passado o segundo dia.
"Mamãe estou com muita sede!"
Susanna sabia que ia morrer, mas queria pelo menos poder salvar sua filha. Encontrou um vestido, talvez fosse aquele que viera provar, e improvisou uma cama para Gayaney. Apesar de estar fazendo muito frio, ela tirou suas meias e as colocou sobre sua filha para aquecê-la.
As duas ficaram ali durante oito dias.
Por causa da escuridão Susanna perdeu a noção do tempo. Por causa do frio, perdeu a sensibilidade dos dedos das mãos e dos pés. Por causa dessa impossibilidade de se mover perdeu a esperança. "Eu estava apenas esperando a morte chegar!"
Ela começou a ter alucinações. Seus pensamentos vagueavam. De vez em quando um sono providencial a livrava dos horrores do sepultamento: o frio, a fome, ou, mais freqüentemente, a voz de sua filha.
"Mamãe, estou com sede."
Em algum ponto daquela noite eterna Susanna teve uma idéia. Ela se lembrou de um programa de televisão em que um explorador do Ártico estava morrendo de sede. Seu companheiro deu um corte profundo na mão e deu seu próprio sangue para ele beber.
"Eu não tinha água, nenhum suco de fruta, nenhum líquido. Foi aí que me lembrei que tinha meu próprio sangue!"
Tateando com os dedos dormentes de frio, encontrou um pedaço de vidro quebrado. Abriu com ele o dedo polegar da mão esquerda e o deu para sua filha chupar.
As gotas de sangue não eram suficientes, "Por favor, mamãe, um pouco mais. Corte outro dedo." Susanna não se lembra de quantas vezes teve que se cortar. Ela sabe apenas que, se não houvesse feito isto antes, Gayaney teria morrido. Seu sangue era a única esperança de sua filha.
"Este cálice é o novo pacto em meu sangue", explicou Jesus, apontando para o vinho.[1]
Esta afirmação deve ter causado admiração aos apóstolos. Eles haviam aprendido a história do vinho da Páscoa. Ele simbolizava o sangue do cordeiro com que os israelitas, escravos do Egito no passado, haviam pintado os umbrais das portas de suas casas. Aquele sangue guardou seus lares da morte e salvou seus primogênitos. Ele os ajudou a se livrar do cativeiro egípcio.
Por muitas gerações, os judeus observaram a Páscoa, sacrificando um cordeiro. Todo ano o sangue era derramado, e todo ano o livramento era celebrado.
A lei exigia o sangue de um cordeiro. Isto era suficiente.
Era suficiente para cumprir as exigências da lei. Era bastante para atender ao mandamento. Era suficiente para atender à exigência da justiça de Deus.
Mas não era suficiente para retirar o pecado.
"... porque é impossível que o sangue de touros e de bodes tire pecados."'[2]
Os sacrifícios podiam oferecer soluções temporárias, mas somente Deus pode oferecer solução eterna.
Assim Ele o fez.
Debaixo dos escombros de um mundo decaído, Ele feriu suas mãos. Nos destroços de uma humanidade Ele feriu o seu lado. Seus filhos estavam soterrados, então ele lhes deu seu próprio sangue.
Era tudo o que ele tinha. Seus amigos tinham desaparecido. Suas forças estavam diminuindo. Seus bens haviam sido roubados. O próprio Pai lhe havia escondido o rosto. Seu sangue era tudo o que tinha. Mas seu sangue foi suficiente.
‘Se alguém tem sede, venha a mim e beba’[3]
Não é fácil admitir que temos sede. Fontes falsas aclamam nossa sede com goles açucarados de prazer. Mas chega o momento em que o prazer não satisfaz. Vem a hora tenebrosa da vida em que o mundo cai e somos soterrados nos escombros da realidade, chamuscados e moribundos.
Alguns preferem morrer a admitir que têm sede. Outros admitem e escapam da morte.
"Senhor, eu preciso de ajuda!"
Por isso os sedentos vêm. Somos um grupo de esfarrapados, unidos por sonhos irrealizados e promessas fracassadas. Riquezas que nunca acumulamos. Famílias que nunca construímos. Promessas que nunca cumprimos. Crianças de olhos arregalados soterradas no subsolo de nossos próprios fracassos.
Estamos com muita sede.
Não é sede de fama, riqueza, paixão ou romance. Já bebemos de tudo isto. São águas amargas no deserto. Elas não matam a sede - elas matam a nós.
"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça..."
Justiça. Isto mesmo. É disto que temos sede. Temos sede de uma consciência tranqüila. Desejamos uma vida limpa. Queremos um novo começo. Pedimos que uma mão entre na escura caverna de nosso mundo e faça por nós uma coisa que não podemos fazer — tornar-nos retos novamente.[4]
"Mamãe, estou com sede", rogava Gayaney.
"Foi aí que me lembrei que tinha meu próprio sangue", explicou Susanna.
E, então, o dedo foi cortado, o sangue foi derramado e a criança foi salva.
"Deus, estou com sede", oramos.
"Isto é o meu sangue, o sangue do pacto, o qual é derramado por muitos para remissão dos pecados",[5] declara Jesus.
E sua mão foi ferida,
o sangue derramado,
e os filhos foram salvos.

1. Lucas 22.20
2. Hebreus 10.4
3. João 7.37
4. "Não é suficiente meramente desjar a justiça, a não ser que tenhamos por ela uma fome irresistível..." (Jerônimo, citado em: Bruner, The Christbook, p. 142.)
5. Mateus 26:28