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domingo, 30 de janeiro de 2011

Aliviando a bagagem - Max Lucado - 10º Capítulo - Eu o levarei para o lar


10 - Eu o Levarei para o Lar

O Fardo do Túmulo

Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam...
Salmos  23.4
Verão na antiga Palestina. Um bando de carneiros, de cabeças balouçantes, segue o pastor para fora do portão.

A crista do sol mal apareceu no horizonte, e ele já conduz o seu rebanho. Como todos os outros dias, ele os guia através do portão e os leva para os campos. Porém, diferente da maioria dos outros dias, o pastor não voltará para casa à noite. Ele não descansará em sua cama, e as ovelhas não dormirão em seu piquete cercado. É o dia de o pastor levar as ovelhas para o campo alto.

Hoje, ele encaminha o seu rebanho para as montanhas.

Ele não tem outra escolha. O pastoreio da primavera deixou os seus pastos tosados, por isso ele precisa procurar novos campos. Sem outra companhia, que não as ovelhas, e sem outro anelo, que não o bem-estar delas, ele as guia para os espessos gramados das encostas. O pastor e o seu rebanho ir-se-ão por semanas, talvez meses. Ficarão lá até o outono; até que a grama se acabe e o frio se torne insuportável.

Nem todos os pastores fazem esta jornada. A caminhada é longa. A vereda é perigosa. Plantas venenosas podem intoxicar o rebanho. Animais selvagens podem atacar o rebanho. Existem trilhas estreitas e vales escuros.

Alguns pastores preferem a segurança dos pastos estéreis, embaixo.

Mas o bom pastor não. Ele conhece o caminho. Ele palmilhou esta trilha muitas vezes. Além do mais, ele está preparado. Vara na mão e cajado preso ao cinto. Com a vara, ele tangerá o rebanho. o cajado, ele o protegerá e guiará. Ele o conduzirá para as montanhas.

Davi compreendia esta peregrinação anual. Antes de comandar Israel, ele comandou ovelhas. Poderia o seu tempo como pastor a inspiração por trás deste que é um dos mais importantes versículos da Bíblia? "Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam" (Sl 23.4).

Porque o que o pastor faz com o rebanho, o nosso Pastor fará conosco. Ele nos conduzirá aos campos elevados.

Quando os pastos estiverem tosados aqui embaixo, Deus nos levará lá para cima. Ele nos guiará através do portão, para fora das terras rentes, e subirá a trilha da montanha.

Como um pastor escreveu:

Toda montanha tem seus vales. Suas encostas são marcadas por profundas ravinas e sulcos. E a melhor rota para o topo é sempre através destes vales.

Qualquer pastor acostumado aos campos altos sabe disso.

Ele guia o seu rebanho de modo gentil, porém persistente, pela trilha que sobe sinuosa através dos vales sombrios.

Algum dia, nosso Pastor fará o mesmo conosco. Ele nos levará para a montanha pelo caminho do vale. Ele nos guiará para a sua casa através do vale da sombra da morte.

Muitos anos atrás, quando eu morava em Miami, recebemos no escritório da igreja um telefonema de uma casa funerária próxima. Um homem havia identificado o corpo de um indigente como sendo seu irmão, e queria um culto memorial. Ele não conhecia nenhum ministro na região.

Poderia eu dizer algumas palavras? O ministro sênior e eu concordamos. Quando chegamos, o irmão do falecido havia selecionado um texto numa Bíblia em espanhol: "Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam" (Sl 23.4).

Ele precisava assegurar-se de que, embora seu irmão tivesse vivido sozinho, não morrera só. E buscando esta segurança, voltou-se para este versículo. Você tem, igualmente, feito o mesmo.

Se você já assistiu a um culto fúnebre, já ouviu estas palavras.

Se você já caminhou pelo cemitério, já leu estas palavras. Elas são citadas nas sepulturas dos indigentes; entalhadas nas lápides dos reis. Gente que não conhece nada da Bíblia conhece esta parte dela. Gente que não cita as Escrituras recorda este trecho, este versículo sobre vale, sombra e pastor.

Por que? Por que estas palavras são tão estimadas? Por que este verso é tão amado? Posso pensar num par de razões. Em virtude deste salmo, Davi concede-nos dois lembretes que podem ajudar-nos a perder o medo da sepultura.

Todos já o enfrentamos. Numa vida assinalada por hora marcada com o médico, hora marcada com o dentista, hora marcada com a escola, não está marcada, para nenhum de nós, a hora em que vamos faltar; não há hora marcada com a morte. "Aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo" (Hb 9.27). Oh, como gostaríamos de mudar este verso. Apenas uma ou duas palavras seriam suficientes. "A quase todos está ordenado morrer..." ou "A todos, menos a mim, está ordenado morrer..." ou "A todos os que esquecerem de se alimentar direito e de tomar vitaminas está ordenado morrer...". Mas estas não são palavras de Deus. Em seu plano, todos devem morrer, mesmo aqueles que são corretos e tomam as suas vitaminas.

Eu poderia ter passado o dia todo sem lembrar você disso. Fazemos possível para evitar o tópico. Um homem sábio, porém, insiste que o enfrentemos honestamente:

"Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque ali se vê o fim de todos os homens; e os vivos o aplicam ao seu coração" (Ec 7.2). Salomão não estava promovendo uma mórbida obsessão pela morte. Ele estava nos lembrando de sermos honestos quanto ao inevitável.

Moisés fez a mesma exortação. No único salmo atribuído à sua pena, ele orou: "A duração da nossa vida é de setenta anos... Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio" (Sl 90.10,12).

O sábio se lembra da brevidade da vida. Exercícios podem obter-nos um pouco mais de batidas do coração. A medicina pode dar-nos um pouco mais de respiração. Mas no fim, há um fim. E a melhor maneira de enfrentar a vida é ser honesto quanto à morte.

Davi era. Ele pode ter matado Golias, mas não tinha ilusões quanto a evitar o gigante da morte. E, embora o seu primeiro lembrete nos torne moderados, o segundo nos encoraja: Não temos de enfrentar a morte sozinhos.

Não perca a mudança no vocabulário de Davi. Até este ponto, e eu temos sido os ouvintes, e Deus, o assunto. "O Senhor é meu pastor". "Ele me faz deitar". "Ele guia-me mansamente às águas tranqüilas". "Ele restaura a minha alma". "Ele guia-me pelas veredas da justiça". Nos três primeiros versos, Davi nos fala, e Deus escuta.

De repente, porém, no verso quatro, Davi fala com Deus, e nós ouvimos. É como se a face de Davi, que estava sobre nós, agora se voltasse para Deus. Seu poema torna-se uma oração. Em vez de falar conosco, ele fala com o Bom Pastor. "Tu estás comigo; a tua Vara e o teu cajado me consolam".

A mensagem subentendida de Davi é sutil, porém crucial.

Não enfrente a morte sem enfrentar Deus. Nem mesmo fale da morte, sem falar com Deus. Ele, e apenas Ele, pode guiá-lo através do vale. Outros podem especular ou aspirar, contudo, apenas Deus conhece o caminho para levá-lo ao lar. E apenas Deus está comprometido em levar você para lá, em segurança.

Anos depois de Davi haver escrito estes versos, outro pastor de Belém diria: "Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também" (Jo 14.2,3).

Note a promessa de Jesus. "Virei outra vez e vos levarei para mim mesmo". Ele empenha-se em levar-nos ao lar. Ele não delega esta incumbência. Ele envia missionários para ensinar você, manda anjos para proteger você, professores para guiar você, cantores para inspirar você, mas não manda ninguém para levar você. Ele reserva esta tarefa a si próprio. "Eu voltarei e levarei você para casa". Ele é o seu Pastor pessoal. E Ele é responsável, pessoalmente, em conduzir você ao lar. E porque Ele está presente quando qualquer uma de suas ovelhas morre, você pode dizer o que Davi disse: "Não temerei mal algum".

Quando minhas filhas eram mais novas, desfrutamos de muitas tardes divertidas na piscina. Como todos nós, elas tiveram de superar seus temores a fim de nadar. Um dos últimos medos que elas tiveram de enfrentar foi o medo da profundidade. Uma coisa é nadar na superfície, outra coisa é mergulhar fundo. Quero dizer, quem sabe que espécies de dragões e serpentes habitam as profundezas de uma piscina de dois metros e meio? Você e eu sabemos que não há nada a temer, mas uma criança de seis anos não sabe. Uma criança sente a respeito da profundidade o mesmo que você e eu sentimos a respeito da morte. Não estamos certos e nos espera lá embaixo.

Eu não queria que minhas filhas tivessem medo da profundidade, então eu brincava, com cada uma delas, de Shamu, a baleia. Minha filha era a treinadora. Eu era Shamu. Ela apertava o nariz e passava o braço em volta do meu pescoço. Então afundávamos. Afundávamos, afundávamos, afundávamos até poder tocar o fundo da piscina. Então explodíamos, rompendo à tona. Após vários mergulhos, elas compreenderam que não tinham nada a temer. Nenhum mal.

Por quê? Porque eu estava com elas.

E quando Deus nos chamar para dentro do profundo vale da morte. Ele estará conosco. Ousaríamos pensar que Ele nos abandonaria no momento da morte? Iria um pai forçar seu filho a nadar sozinho nas profundezas? Iria o pastor exigir que a sua ovelha viajasse sozinha para as terras altas? Claro que não. Iria Deus permitir que um filho seu viajasse sozinho para a eternidade? Absolutamente não! Ele está com você!

O que Deus disse a Moisés, Ele diz a você: "Irá a minha presença contigo para te fazer descansar" (Êx 33.14).

O que Deus disse a Jacó, Ele diz a você: "Eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores" (Gn 28.15).

O que Deus disse a Josué, Ele diz a você: "Como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei nem te desampararei" (Js. 1.5).

O que Deus disse à nação de Israel, Ele diz a você: "Quando passares pelas águas, estarei contigo" (Is 43.2).

O Bom Pastor está com você. E porque Ele está com você, pode fazer a mesma declaração que Davi: "Não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.”

Um capelão do exército francês usava o Salmo 23 para encorajar os soldados antes da batalha. Ele insistia com eles para repetirem a primeira frase do salmo, marcando cada palavra em um dedo. O dedo mínimo representava a palavra O; o anular representava a palavra Senhor; o médio, é; o indicador, meu; e o polegar, pastor. Então ele pedia que cada soldado escrevesse o versículo na palma da mão, e o repetisse sempre que precisasse de força.

O capelão dava ênfase especial à mensagem do dedo indicador - meu. Ele recordava aos soldados que Deus é um pastor pessoal, com uma missão pessoal - levá-los ao lar em segurança.

As palavras do capelão alcançaram o alvo? Na vida de um homem, sim. Após uma batalha, um jovem soldado foi achado morto; sua mão direita agarrada ao indicador da esquerda.

"O Senhor e o meu pastor...".

Oro para que as suas horas finais encontrem você agarrado à mesma esperança.

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